sábado, 28 junho 2025

Forró e a Bahia: Valença celebra um São João com identidade viva

Na noite de 22 de junho, a cidade de Valença, no Baixo Sul da Bahia, mostrou mais uma vez por que seu São João carrega uma vibração própria, marcada não apenas pela animação das ruas e das festas, mas também pela profundidade cultural que vem das suas raízes afro-baianas. Em meio ao som da sanfona e às barracas de comida típica no centro da cidade, era impossível não perceber os traços únicos que tornam a festa valenciana distinta dentro do calendário junino baiano.


A Praça da República, tradicional ponto de encontro das festividades, ficou lotada de moradores e visitantes que chegaram das zonas rurais, das ilhas e de cidades vizinhas. Ao cair da noite, a cidade estava completamente tomada por um clima de celebração: bandeirolas coloridas dançando no vento, fogueiras crepitando nos bairros e a musicalidade tradicional misturada aos sons percussivos que fazem de Valença um território de cruzamento cultural.

A programação do dia 22 trouxe atrações que passearam entre o forró, o arrocha e o samba junino. Essa força se manifesta também nas danças, grupos de samba de roda se apresentaram em paralelo às quadrilhas, e em algumas comunidades rurais, como no Orobó e na região do Jequiriçá, é comum ver a celebração começar com rezas ou ladainhas, seguindo para rituais coletivos em que o samba é tanto devoção quanto festa. É nesse espaço híbrido, onde o sagrado e o profano convivem, que o São João valenciano encontra sua singularidade.

O público, composto por todas as idades, mostrou que a festa é para todos. Jovens ocupavam os arredores da praça, registrando cada momento em vídeos e fotos, enquanto famílias com crianças circulavam entre as barracas de milho, amendoim, licor e pamonha. Já os mais velhos, muitos com suas camisas de chita e chapéus de palha, pareciam carregar nos gestos e no silêncio a memória de muitos outros São Joões.

Valença também tem se destacado por manter vivas as tradições das comunidades periféricas e quilombolas, que realizam seus próprios festejos em paralelo ao centro. Nessas festas, há espaço para toques de candomblé, rezas de São João Batista, e performances culturais que não se encaixam no molde do entretenimento urbano, mas dizem muito sobre o que significa resistência cultural em tempos de massificação da festa junina.

Para quem perdeu a noite do dia 22, a boa notícia é que o São João de Valença segue até o dia 24 e se estende em algumas comunidades mesmo depois disso. Nos próximos dias, haverá mais apresentações culturais, cortejos juninos, feiras populares e uma programação diversa que mistura artistas regionais e expressões da cultura local. Há promessas de rodas de samba em bairros como Bolívia e Guaibim, e ainda apresentações de quadrilhas escolares, que são um espetáculo à parte com figurinos feitos à mão e coreografias que misturam o popular com o pedagógico.

E esse é só o começo. O São João em Valença não se resume ao palco principal. Ele vive nas vielas, nos quintais, nas comunidades que mantêm acesa a centelha de uma Bahia profundamente negra, rural e resistente. É uma festa que carrega no peito a ancestralidade e, nos pés, a alegria de quem dança porque resiste. Porque aqui, São João também é reza forte. É tambor que chama. É Bahia profunda em celebração.

Nos próximos dias, seguimos pelos interiores do estado — por Seabra, Ibicuí, Cruz das Almas, Senhor do Bonfim — ouvindo histórias, batidas e sotaques que fazem de junho o mês em que o povo baiano reafirma quem é. De cada canto, uma voz. De cada fogueira, uma memória. E de cada festa, uma identidade que pulsa.

SÃO JOÃO PELA BAHIA uma realização da 585 Studios, com apoio do Governo do Estado, através da Superintendência de Fomento ao Turismo – Sufotur.

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